por Arísia Barros
O menino tem a pele tão clara que dá para contar os inúmeros vasinhos sanguíneos que bordam vermelhidão em sua pele. A pele do menino é quase translúcida. O menino se achega entre as pernas da mãe soluçando e dizendo: é o bicho!
O menino assusta a mãe com aquele desespero fora de hora. A mãe desnorteada pelo descontrole do filho, na tensa e lenta fila do supermercado, busca irritadiça a causa do repentino medo. O medo do menino é agudo. A mulher agora já absorvida pela inquietação do filho sacode-lhe o fino braço e ordena: Você quer me dizer o que foi?
O menino colhido pelo susto aponta a causa do desatino: uma mulher de pele preta e cabelos encarapitados pela negritude é o medo da infância do menino.
A mulher negra de cabelos montados de história é o bico papão do menino. O bicho papão que um dia trabalhou como doméstica e sua babá e a mãe para conter as estripulias infantis ameaçava dá-lo para a empregada-bicho-papão.
A mãe conta a história na fila do supermercado e ri do medo do filho, trazendo consigo muitas gargalhadas de solidariedade.
A mãe incorporou à alma do menino,de pele translúcida, o medo do povo de pele preta. O menino estabeleceu com as lições de casa que a mãe lhe ensina o princípio de isolamento de quem não é igual, ou tem a pele tão clara como a sua.
A mãe já ensina ao pequeno menino a naturalização da violência gratuita contra a ampla maioria minorizada.
A mãe exercita nos valores domésticos o significado do apartheid.
O pequeno menino não sabe o que apartheid, mas enxerga na empregada de pele preta o bico papão que assusta. É a sociedade escravagista transcendendo a linha do tempo.
A mulher de pele preta com as mãos engessadas pelos séculos de servidão recusa a leitura pública, que a mãe do menino faz dela e envolta numa certeza de dignidade sai do seu lugar e ocupa os territórios da resistência , investe-se da sabedoria acumulada e consciência do mundo confrontando a ex-patroa: Porque a senhora faz isso com o seu filho?
O silêncio que agarra os ruídos da fila é então quebrado pela arrogância da mãe do menino, de pele translúcida, que tem medo da ex-babá-que-a-mãe-afirmara-que-era-o-bicho-papão: Ah! Esses negros, não conseguem nem rir de uma piada inocente !
E achega o menino nos braços sussurrando em seu ouvido: era só uma brincadeirinha, meu filho. Ela não morde! E ri, com gosto, de mais uma piada. E todos na fila riem solidários.
No arremate final desdenha: Esses negros são os primeiros racistas. Levam tudo muito a sério!
E acarinhando o menino: não chora meu filho, mamãe vai te proteger!
O racismo não é brincadeira! O racismo é arrogante!
O menino assusta a mãe com aquele desespero fora de hora. A mãe desnorteada pelo descontrole do filho, na tensa e lenta fila do supermercado, busca irritadiça a causa do repentino medo. O medo do menino é agudo. A mulher agora já absorvida pela inquietação do filho sacode-lhe o fino braço e ordena: Você quer me dizer o que foi?
O menino colhido pelo susto aponta a causa do desatino: uma mulher de pele preta e cabelos encarapitados pela negritude é o medo da infância do menino.
A mulher negra de cabelos montados de história é o bico papão do menino. O bicho papão que um dia trabalhou como doméstica e sua babá e a mãe para conter as estripulias infantis ameaçava dá-lo para a empregada-bicho-papão.
A mãe conta a história na fila do supermercado e ri do medo do filho, trazendo consigo muitas gargalhadas de solidariedade.
A mãe incorporou à alma do menino,de pele translúcida, o medo do povo de pele preta. O menino estabeleceu com as lições de casa que a mãe lhe ensina o princípio de isolamento de quem não é igual, ou tem a pele tão clara como a sua.
A mãe já ensina ao pequeno menino a naturalização da violência gratuita contra a ampla maioria minorizada.
A mãe exercita nos valores domésticos o significado do apartheid.
O pequeno menino não sabe o que apartheid, mas enxerga na empregada de pele preta o bico papão que assusta. É a sociedade escravagista transcendendo a linha do tempo.
A mulher de pele preta com as mãos engessadas pelos séculos de servidão recusa a leitura pública, que a mãe do menino faz dela e envolta numa certeza de dignidade sai do seu lugar e ocupa os territórios da resistência , investe-se da sabedoria acumulada e consciência do mundo confrontando a ex-patroa: Porque a senhora faz isso com o seu filho?
O silêncio que agarra os ruídos da fila é então quebrado pela arrogância da mãe do menino, de pele translúcida, que tem medo da ex-babá-que-a-mãe-afirmara-que-era-o-bicho-papão: Ah! Esses negros, não conseguem nem rir de uma piada inocente !
E achega o menino nos braços sussurrando em seu ouvido: era só uma brincadeirinha, meu filho. Ela não morde! E ri, com gosto, de mais uma piada. E todos na fila riem solidários.
No arremate final desdenha: Esses negros são os primeiros racistas. Levam tudo muito a sério!
E acarinhando o menino: não chora meu filho, mamãe vai te proteger!
O racismo não é brincadeira! O racismo é arrogante!
http://cadaminuto.com.br/blog/raizes-da-africa
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