20/3/2013
Foto: Membros de cooperativa de
camponeses da região de San Onofre, Colômbia, passam por soldados do
exército que patrulham suas terras. Crédito: Marcelo Schneider/CMI
Por Marcelo Schneider/CMI e Manoela Vianna/KOINONIA
O Comitê Executivo do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) manifestou
profunda preocupação com o aumento alarmante de ameaças à segurança
humanitária na América Latina. O comitê pediu esforços renovados por
parte das igrejas e do movimento ecumênico na luta por sociedades
pacíficas e justas.
O comunicado divulgado pelo Comitê Executivo do CMI, que se reuniu
entre 5 e 8 de março, em Bossey, Suíça, identifica a violência, os
assassinatos extra-judiciais, o tráfico de drogas, o tráfico de seres
humanos, o "feminicídio" e a exclusão de mulheres, jovens, povos
indígenas e migrantes como questões de interesse primordial para as
igrejas.
A declaração condena os ataques a povos indígenas e comunidades
tradicionais, uma das questões humanitárias mais graves no Brasil hoje
em dia. O CMI demanda que "empreendimentos econômicos e projetos de
corporações transnacionais em terras ancestrais sejam implementados em
consulta com os povos dessas terras, como estipulado pela Convenção 169
da Organização Internacional do Trabalho e a Declaração das Nações
Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas ".
O Comitê Executivo do CMI também insta Estados latino-americanos a
proteger os defensores dos direitos humanos, afirmando que "as tarefas
dos defensores de direitos humanos no monitoramento, denúncia e
proposição de políticas públicas deve estar livre de pressões e ameaças.
A criminalização do protesto social é inaceitável."
A declaração também condena as políticas dos Estados Unidos em relação a
Cuba, incluindo as sanções econômicas, que, segundo o texto,
"constituem uma ameaça à paz e a manifestação de uma política de
interferência no direito dos povos à auto-determinação".
A declaração manifesta seu apreço às negociações de paz entre o governo
colombiano e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). O
documento é fruto das preocupações expressas pelos participantes de uma
consulta regional ecumênica sobre "paz e segurança humana na América
Latina", organizada pela Comissão das Igrejas em Assuntos Internacionais
(CCIA), do CMI, em Antigua, Guatemala, em 2012.
Declaração toca diretamente problemas brasileiros
Além de falar do comércio de armas e suas consequências diretas nos
altos índices de violência, ao chamar atenção para a soberania dos
territórios ancestrais, a declaração do CMI colabora para trazer à luz
uma realidade grave da luta por direitos humanos no Brasil. A
Constituição Federal Brasileira de 1988, por meio do Artigo 68,
reconheceu como propriedade definitiva das comunidades remanescentes de
quilombos (quilombolas) as terras que ocupam. Esse direito foi
regulamentado com o Decreto nº 4.887 de 2003, fundamentado na Convenção
169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é
signatário.
A Fundação Cultural Palmares certificou 1749 comunidades como
quilombolas, das quais 1229 têm processos de regularização, mas apenas
139 têm o título das terras concedido pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
Isso quer dizer que pouco mais de 7% das comunidades tem a garantia de
permanência em seu território. O cenário é negativo em relação à
garantia do direito a terras ancestrais, entre outros.
Ao contrário de assegurar os direitos fundiários e os básicos, como
acesso à luz, água e educação, o Estado muitas vezes é o sujeito
violador. Casos como a base de lançamento de foguetes de Alcântara
(Maranhão), o Centro de Adestramento da Marinha na Ilha da Marambaia
(Rio de Janeiro) e a luta de Rio dos Macacos (Bahia) em disputa com a
Marinha são emblemáticos em se tratando de violação de direitos de
comunidades remanescentes de quilombos.
Agrava-se a situação pelo processo movido de Ação de
Inconstitucionalidade contra o Decreto nº 4.887/2003, pelo Partido DEM e
por projetos energéticos de grande impacto como, por exemplo, Belo
Monte, onde mobilizações sociais de populações tradicionais são
criminalizadas.
A declaração do CMI vem tendo abragência continental e, em curto prazo,
já serve de subsídio para mobilizações ecumênicas envolvidas na nova
rodada de negociações em torno do Tratado de Comércio de Armas, que teve
início no último dia 18, em Nova York, Estados Unidos.
|
|||
O
Observatório Quilombola publica todas as informações que recebe, sem
descartar ou privilegiar nenhuma fonte, e as reproduz na íntegra, não se
responsabilizando pelo seu conteúdo.
|
|||
Na construção do Decreto 4887/2003, que regulamenta o procedimento para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos, a CONAQ teve uma participação importantíssima, influenciando diretamente na construção do texto legal. Nesse sentido, a CONAQ assume também a defesa radical do referido Decreto.
segunda-feira, 25 de março de 2013
CMI emite declaração sobre paz e segurança da América Latina
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário