Nota da Associação Comunitária Agropastoril e Quilombola do Povoado de Lages dos Negros, Campo Formoso, Bahia
Sabemos
que a prática de racismo e discriminação para com o povo negro no Brasil
ainda é uma constante gerando constrangimentos e danos irreparáveis
para as vítimas. No dia 22 de abril, segunda–feira, do ano em curso, o
quilombola Adenilson dos Santos Gama da comunidade quilombola de Lages
dos Negros – Campo Formoso/BA, saiu da comunidade indo para a sede do
município, Campo Formoso; ao chegar lá procurou a Agência da Caixa
Econômica Federal com o intuito de abrir uma conta para receber seu
salário pago pela prefeitura, por ser o mesmos prestador de serviço como
operador do poço artesiano que abastece a população local, de Lages dos
Negros.
No momento em que esteve no interior da
Agência supracitada foi atendido por uma funcionária com a qual deixou
Xerox dos seus documentos pessoais. Acreditando ter concluído a abertura
da conta o mesmo se dirigiu para o ponto de ônibus para retornar à
comunidade quando foi surpreendido por policiais da PM trazendo nas mãos
os documentos que havia deixado no banco para abertura da conta
acusando-o de ter subtraído da funcionária da caixa um aparelho celular.
As pessoas que se encontravam no ônibus
ficaram estarrecidas e muito preocupadas com a atitude da polícia, mas
talvez por falta de conhecimento ou até mesmo por medo não se
manifestaram já que se tratava de policiais da PM nada puderam fazer.
Além do constrangimento da acusação
ainda sofreu com a prática de racismo pelos policiais que o chamavam de
negro safado e negro ladrão colocando o mesmo no camburão da polícia e
lavando–o novamente até a Caixa; ao chegarem lá a pessoa que havia
levado o aparelho já tinha sido encontrada e o aparelho devolvido para a
suposta dona; os policiais ainda o pressionaram dizendo que ele era
comparsa do indivíduo, foi quando perceberam que estavam acusando a
pessoa errada; liberaram o rapaz, que é um pai de família honesto com
quatro filhos menores e sem nenhuma passagem pela polícia, apenas com um
pedido de desculpa.
Será que desculpa é o suficiente para
corrigir os danos morais e psicológicos de pessoa que teve sua dignidade
ferida por quem deveria lhe proteger?
Esse tipo de atitude está sempre
acontecendo com nosso povo, aqui da Lages dos Negros, principalmente
quando se trata de ação policial, ou de um fato negativo, que eles fazem
questão de nos estigmatizarem exibindo nos meios de comunicação como se
fosse um troféu, generalizando tudo, dando a impressão de que todas as
pessoas são envolvidas, mesmo que o ato não tenha ocorrido na
localidade, como o que aconteceu no último episódio a mais ou menos dois
meses atrás, quando fizeram uma apreensão numa roça de maconha nas
divisas com vizinho município de Sento a Sé, a quilômetros da localidade
de Lages dos Negros, e colocaram a filmagem como se tivesse acontecido
aqui na sede do povoado deixando todos muito constrangidos e indignados.
Diante do ocorrido com o quilombola
Adenilson dos Santos Gama, que também é membro e atual vice-presidente
da diretoria da Associação acima, manifestamos aqui o nossos repúdios e
indignação. Estamos encaminhando o caso para a defensoria pública e
instituições de apoio ao povo negro para que sejam tomadas as devidas
providencias.
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Compartilhado por Hilta Costa Araujo.
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