A comunidade quilombola do Cafundó, de Salto de Pirapora, será uma das contempladas
Samira Galli
O Banco Mundial vai subsidiar os projetos de quatro quilombos da região, no valor de até R$ 100 mil ao todo. As comunidades quilombolas de Cafundó, de Salto de Pirapora; Brotas, em Itatiba; Jaó, de Itapeva; e Cangume, de Itaóca, poderão investir em estrutura e equipamentos para produção agrícola a partir do ano que vem. Na última terça-feira, as comunidades estiveram reunidas em Sorocaba para escolher os dois representantes que irão fazer parte de um colegiado, formado por quilombolas de todo o Estado. “Após a aprovação técnica dos projetos das comunidades, o próprio colegiado irá definir qual quilombo será atendido primeiro”, explica a assistente agropecuária da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), Sandra Maria Ramos.
A iniciativa faz parte do Programa Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável “Microbacias II – Acesso ao Mercado”, desenvolvido a partir de 2008 pelo Governo do São Paulo. Para a segunda etapa do projeto Microbacias, o Banco Mundial pediu uma salvaguarda: que os indígenas pudessem participar com uma contrapartida de apenas 1% – bem inferior que os 30% impostos aos produtores agrícolas. As comunidades quilombolas se reuniram para pedir participação na salvaguarda, da mesma forma em que os indígenas. “Essas comunidades tradicionais não têm recursos. Além disso, esses R$ 1 mil de contrapartida podem ser rateados entre todos os quilombolas. É mais acessível para eles e, com isso, eles vão ter acesso ao projeto”, afirma Sandra.
Por outro lado, enquanto as associações de produtores podem receber até R$ 800 mil de subsídio, colocou-se o limite de R$ 100 mil para as comunidades tradicionais. São 36 quilombos no Estado de São Paulo, que foi dividido em três grandes áreas: Vale do Ribeira, Litoral Norte e Planalto Paulista, no qual fazem parte as comunidades quilombolas da região de Sorocaba.
Para Regina Aparecida Pereira, do Cafundó, o mais difícil será organizar as prioridades das quatro comunidades. “As necessidades são tantas e estamos há tanto tempo precisando de ajuda”, destaca. Para o Cafundó, Regina diz que as necessidades aparecem desde um trator para arar a terra até a construção de barracões agrícolas e casas, que estão em condições precárias. “No Cafundó, a maioria das casas estão caindo”, observa.
Cento e oito pessoas das 24 famílias de Cafundó vivem cada vez menos da agricultura por falta de recursos. “Os jovens já não ficam mais na comunidade. A maioria busca oportunidade fora, pela falta de recurso. O forte da comunidade é agricultura, mas como a gente não tem apoio, é muito difícil falar que consegue viver de agricultura ali. Não temos apoio do município nem para arar a terra. E, se conseguimos, não temos sementes. São mínimas as famílias que conseguem plantar”, descreve.
O representante titular dos quilombos, Alex Aguiar Pires, 20, faz parte da juventude que precisou buscar oportunidade fora da comunidade. “Trabalho como ajudante de pedreiro”, diz. Para suplente, foi escolhido Jaime Maciel de Pontes, de 47 anos, da comunidade Cangume, de Itaoca. “Pensamos na diferença de idade e de localização, para trabalhar bem a questão do intercâmbio entre as gerações e as comunidades”, afirma Alex.
Ao todo, são 175 famílias e mais de 800 pessoas vivendo nas quatro comunidades quilombolas. Regina acredita que o subsídio irá ajudá-los não só a se manter financeiramente, mas também a restaurar os valores dos quilombos. “Precisamos resgatar a comunidade, para não perder nossos jovens, como vem acontecendo”, ressalta.
Com o termo de compromisso assinado esta semana, o próximo passo é fazer um diagnóstico participativo, com a ajuda da Cati. “Em reuniões, vamos analisar os problemas e encontrar as soluções”, explica Sandra. Só então é que o projeto será montado e enviado a uma equipe técnica, para então ser aprovado. “O único pedido das comunidades é que, a cada chamada, seja contemplado um quilombo de cada região, para que ninguém fique sem receber nada”, finalizou.
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